Imaginam mais alguém que não eu?!

Nem deu bem para perceber que demoraria dias a chegar, nem deu bem para me cansar só de pensar nas horas que iria passar em aviões e aeroportos, só me deu para perceber que iria estar longe fisicamente...
Chegada a Paris, demorei-me tanto em pensamentos que quando dei por mim quase que fui a última pessoa a entrar no avião. Quase que não valia a pena ter corrido dado o atraso de 1.45h no voo. “Uma falha técnica”, anunciava o comandante, num voo da Air France era motivo mais que suficiente para ter saído do avião... não sei porque não o fiz...
Aterrava em Singapura à hora que devia estar a levantar voo rumo à Austrália. A Air France alegava que o contrato que tinha com os passageiros era tão somente levá-los ao destino.
“E levar ao destino dentro do horário estipulado, não?!”
“Estariam a cumprir o contrato se o passageiro aterrasse tão fora de horas que o fizesse perder 2 voos? E mais um dia de férias?!”
“E quem o reembolsaria das viagens perdidas? E quem lhe paga o hotel? E os compromissos laborais que tinha?”
“Posso considerar que estão a cumprir o contrato se me levarem a dar uma volta around the world e desde que me depositem na cidade de destino?!”

A estas e outras perguntas o comissário de bordo só consegui responder um “désolé mademoiselle”...
“Olha vai-te ‘faire f....’ mais a resposta que me dás”.

Em Singapura, toca de correr para o terminal onde supostamente devia embarcar, descobrir o balcão da companhia aérea e... contar o que se passou. Quase que nem precisei de terminar a conversa e já o rapaz procurava um voo onde me pudesse “enfiar”. Dez minutos depois, tinha na mão um novo bilhete e nada que pagar!! Ainda lhe perguntei se tinha que ir apanhar a mala ao tapete ao que me respondeu depois de um telefonema “Acabo de solicitar que os colegas levantem a sua mala e a metam no voo em que vai viajar. Check-in feito. Só tem de estar na sala de embarque 30m antes da partida.”
Meu Deus quanta eficiência!! Será por isto que dizem que o aeroporto de Singapura é o melhor do mundo?!

Bom mas a coisa não termina aqui...
Desembarque em Darwin, alfândega, passaporte, malas.... estava tudo a correr muito bem até que...
“Essa pulseira que traz... é de pele?!”
“Não, não, acha??!! É imitação!! Nós portugueses é que somos muito bons nestas coisas... não, não é de plástico!!” respondi prontamente.
“Não é a primeira vez que vem à Austrália por isso sabe que não se pode transportar nada de origem animal nem vegetal, não sabe?!”
“Sei, sei... oh se sei!! Mas obrigada por relembrar!! Thanks matte”

Ora sai de um lado e volta a fazer check-in no outro... tudo tranquilo... não fora ouvir o meu nome nos altifalantes do aeroporto:
“Sra. Cláudia Antunes tem 4m para se dirigir à sala de embarque respeitante ao voo TL 510 para Díli”
“Como?? 4m?? Então mas se ainda falta meia-hora!!”
De repente fez-se-me luz... Darwin tem mais 30m que Díli e eu ainda achava que tinha tempo para ir para a internet!!

De repente estava eu a pedir às pessoas para passar à frente, em tons de rápida a colocar o laptop, a mochila, a mala e as moedas que trazia no bolso no controlo. Passo pelo detector e apito. Volto para trás, dizem-me para tirar o cinto e o relógio. Volto a passar no detector e a apitar. Chega uma mulher polícia e pergunta o que costume: “Posso apalpá-la?!”. Apeteceu-me dar a resposta do costume: “Se eu disser que não adianta alguma coisa?!” mas não, com um sorriso stressado disse-lhe o que nunca havia imaginado dizer: “Apalpe-me depressa... é que com esta brincadeira já só devo ter 2m para chegar à sala de embarque”. Passo novamente pelo detector e volto a apitar. “Tire as sandálias, por favor”. Finalmente não apitei!!
Agarro em tudo: mochila, computador, mala, cinto, relógio, sandálias e desato a correr por aquele aeroporto fora ao mesmo tempo que tentava não perder as calças...
Ainda tinha que passar um controlo mas o sr. viu-me assim e mandou-me seguir, Fechou a porta imediatamente e pergunta-me se tinha preenchido o documento para sair da Austrália. “Claro que não!! Não tive tempo!!”, Fi-lo com uma letra tão irreconhecível que o próprio a tornou legível.
Finalmente entro dentro do avião...
Tenho para mim que, na verdade, eu nunca quis chegar a Díli ou sequer sair de Portugal.... mas, com a sorte que tenho e depois de tudo, não é que vim cá parar?!
É a sorte do animal!!